sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Síndrome da fada madrinha - Divas X Princesas

Desde muito antes de nascer é de praxe as referências que fazem aos contos de fadas, vai nascer uma princesa ou um príncipe? Quem é mãe provavelmente já ouviu essa frase na gestação, princesas de todo tipo têm sido criadas para cada vez mais abranger um publico maior, isso não quer dizer que a real intenção do modelo princesa não está sendo vendido, ao alimentar esse “papel” pra uma filha ou filho é também alimentar que sim precisamos de um homem, de um homem branco, de um homem que te trate como princesa, e pra você ser princesa você precisa: Ser meiga, carinhosa, frágil, ter cabelos bonitos e sedosos (lisos), unhas feitas, dentes perfeitos, pele macia, depilação em dia, roupas maravilhosamente caras e bonitas, pés de seda, mãos de seda, cintura de pilão, bunda empinada, uma quase bela, recatada e do lar.

Uau, muitas coisas é preciso pra ser princesa e como faremos se crescemos ouvindo que não nascemos pra ser essa dita cuja imposta nesse mundo? Precisamos de uma fada madrinha, e obviamente essa terá que fazer muitos milagres já que nós somos selvagens, uma fada madrinha tem que vir da realeza e com sua varinha de condão terá que nos ensinar tudo que não aprendemos desde pequenas o bom comportamento, o sorriso, a forma de andar, sentar e se vestir, como usar os talheres, como segurar uma taça de champanhe, a andar de salto alto, enfim, essa fada madrinha terá muito trabalho sendo assim, ela será tida por muitas de nós como “a salvadora das pobres pretas relentas das periferias”.
As mulheres negras das periferias têm cada vez mais tomado o protagonismo em diversas áreas, nos fortalecendo e yrompendo padrões impostos, porém, ainda convivemos com algumas crises, aliais diversas crises, que tem ficado cada vez mais expostas, parece que tudo que fazemos precisamos sempre estar num lugar de disputa “faço e sou maravilhosa e as inimigas que morram de recalque”, que inimigas? Provavelmente aquela nossa vizinha, colega de trabalho, que é tão fodida quando você, daí entra a síndrome da diva, e quem da mais pra ser mais diva das divas das divônicas? Todas nós queremos espaços ocupar e permanecer neles, isto não significa que tenhamos que fazer o papel do opressor. Criou-se uma divisória de quem merece os novos rótulos pra andar comigo, e quem não faz parte do circuito desses rótulos porque também não alcançam o padrão exigido? Percebam, para tudo há um padrão, pra ser princesa e pra ser diva, quebrar um padrão e criar outro exclui tanto quanto.

Assim como o padrão princesa seleciona o padrão diva também, quem é mais adestrável? Tem uns formatos antigos que são usados desde a época que existia a escravidão, o de enxergar igual seu “aceito” em alguns espaços e sentir inveja ou mais conhecido como recalque, disso ser motivação do querer ser igual ou mais, de também poder andar com os nobres, sentar nas mesas, tomar das suas bebidas, e desde então existem fadas madrinhas pra proporcionar tudo o que é desejado, e aos poucos vão cortando as assas, repaginando a ponto de se perder a identidade, de nos jogar um contra o outro, de calcular toda a boa ação como necessária e primordial para que haja mudanças num lugar que você já é a referencia de mudança querendo assim tomar o seu, o meu o nosso protagonismo duramente conquistado fazendo com que nós desacreditamos do nosso potencial em conseguir coisas sem retoque de magicas ou o famoso empurrãozinho para a glória nos mantendo no mesmo lugar tendo exemplo à princesa Izabel que precisou nos libertar porque os negros escravizados não lutavam pelo o fim da escravidão.

Enxergo que as divas são mulheres independentes que não aceitam mais esse tipo de imposição, que quer ser rainha não mais princesa, quer ser a dona da porra toda, mas que infelizmente também a mantém no papel de competição com iguais, estava vendo uma novela que fala de escravidão esses dias,  a construção das personagens mulheres negras ilustra bem como ao longo do tempo somos tidas como rivais, uma das personagens é a negra mocinha que foi criada na a casa grande quase como se fosse da família e ela sonha com seu príncipe, em casar com ele (homem branco óbvio), dele ser o seu libertador, a outra personagem (a rival) preta, era uma mulher maquiavélica, que também sonhava, mas ela queria o poder, e nessa busca se envolveu com o patrão pra poder parecer que ela podia mais que todo mundo da senzala, ela era tão ambiciosa que era X-9, entregava todo mundo e principalmente a mocinha inofensiva, ela sempre disputava espaço, mas a outra também disputava sutilmente, sempre mostrando que sim era melhor de sentimentos qualidades, ah, já ia me esquecendo, as duas tinham fadas madrinhas, a da mocinha era a que influenciava ela a ser quase sinhá, a se arrumar como as nobres, a escrever, a se comportar diante da sociedade fazendo a acreditar que poderia ser quase uma branca, e a outra a vilã tinha a fada  que influenciava ela a ter ódio de seus iguais principalmente da mocinha fazendo-a conseguir as coisas prejudicando os pretos como ela, as duas por ter fidelidade com as fadas madrinhas assumiam culpas que não eram delas, iam para o tronco, sofriam e voltava cada qual a sua maneira ambas com ódio e vontade de que o príncipe lhe tirasse dali ou de se envolver cada vez mais com o poderoso pra assim conseguir sua alforria.

É exatamente assim que vejo nós mulheres negras nos comportando diante de varias situações, e fico pensando que se ambas conseguem tudo que desejam com as tais madrinhas seriam livres?
Algumas perguntas ficam latejando na cabeça, que até confunde as ideias, mas por que exatamente eu vou procurar uma ou um colonizador para legitimar as minhas ações?
Mais uma vez somos colocadas em cheque, temos ou não condições pra conquistar caminhos sem fadas madrinhas por trás arquitetando coisas que escorregam nas nossas vistas, escorregam tanto que não percebemos o perigo que é nos tornar novamente massa de manobra. Estamos sendo selecionadas como se estivéssemos no mercado de escravos. Nosso momento politico é um dos piores e na surdina que costumam nos atacar, nas caladas da noite, quando estamos distraídas e com tantas coisas sendo feitas pra poder coexistir, podemos ser lesadas, apunhaladas, alguns interesses políticos e econômicos tem sempre por trás de boas ações repentinas vindas de cima pra baixo, o golpe dado na presidenta Dilma é uma lição, não se alie com inimigos em hipótese alguma.



Eu reforço para as crianças próximas e também para minha filha esse papel de realeza que nos pertence, tenho cuidado de não afirmar esse lugar de competição da princesa com a bruxa, da princesa com a irmã com a mãe com quem for, isto é um projeto de desarticulação criado para nós. Vivemos um momento crucial que estamos “usufruindo” de conquistas de lutas travadas à anos, onde estamos metendo o pé na porta e sendo protagonistas de fato das nossas histórias, trazer fadas madrinhas pra nos ajudar a ser, existir  e dar aval para o que fazemos é dar um tiro no pé consagrando mais uma vez colonizadores como heróis das nossas histórias.

3 comentários:

  1. Flor, acho que seria bom por o texto claro sobre o fundo escuro, ou o contrário... Me interessei, mas não consegui ler. Abs

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  2. Oi Michele, algumas pessoas me alertaram disso, o fundo escuro cansa a leitura, falo por mim, leio e começa a lacrimejar os olhos. Percebi que pelo celular fica ruim a leitura ja que fica tudo preto, o fundo e as letras, como vejo o blog sempre pelo computador está ok, vou tentar mexer aqui nas configurações. Obrigada pelo retorno!

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  3. Texto instigante. Bem escrito e verdadeiro. Parabéns!

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