Desde muito
antes de nascer é de praxe as referências que fazem aos contos de fadas, vai
nascer uma princesa ou um príncipe? Quem é mãe provavelmente já ouviu essa
frase na gestação, princesas de todo tipo têm sido criadas para cada vez mais
abranger um publico maior, isso não quer dizer que a real intenção do modelo
princesa não está sendo vendido, ao alimentar esse “papel” pra uma filha ou
filho é também alimentar que sim precisamos de um homem, de um homem branco, de
um homem que te trate como princesa, e pra você ser princesa você precisa: Ser
meiga, carinhosa, frágil, ter cabelos bonitos e sedosos (lisos), unhas feitas,
dentes perfeitos, pele macia, depilação em dia, roupas maravilhosamente caras e
bonitas, pés de seda, mãos de seda, cintura de pilão, bunda empinada, uma quase
bela, recatada e do lar.
Uau, muitas
coisas é preciso pra ser princesa e como faremos se crescemos ouvindo que não
nascemos pra ser essa dita cuja imposta nesse mundo? Precisamos de uma fada
madrinha, e obviamente essa terá que fazer muitos milagres já que nós somos
selvagens, uma fada madrinha tem que vir da realeza e com sua varinha de condão
terá que nos ensinar tudo que não aprendemos desde pequenas o bom
comportamento, o sorriso, a forma de andar, sentar e se vestir, como usar os
talheres, como segurar uma taça de champanhe, a andar de salto alto, enfim,
essa fada madrinha terá muito trabalho sendo assim, ela será tida por muitas de
nós como “a salvadora das pobres pretas relentas das periferias”.
As mulheres
negras das periferias têm cada vez mais tomado o protagonismo em diversas
áreas, nos fortalecendo e yrompendo padrões impostos, porém, ainda convivemos
com algumas crises, aliais diversas crises, que tem ficado cada vez mais expostas,
parece que tudo que fazemos precisamos sempre estar num lugar de disputa “faço e sou maravilhosa e as inimigas que
morram de recalque”, que inimigas? Provavelmente aquela nossa vizinha,
colega de trabalho, que é tão fodida quando você, daí entra a síndrome da diva,
e quem da mais pra ser mais diva das divas das divônicas? Todas nós queremos
espaços ocupar e permanecer neles, isto não significa que tenhamos que fazer o
papel do opressor. Criou-se uma divisória de quem merece os novos rótulos pra
andar comigo, e quem não faz parte do circuito desses rótulos porque também não
alcançam o padrão exigido? Percebam, para tudo há um padrão, pra ser princesa e
pra ser diva, quebrar um padrão e criar outro exclui tanto quanto.
Assim como o
padrão princesa seleciona o padrão diva também, quem é mais adestrável? Tem uns
formatos antigos que são usados desde a época que existia a escravidão, o de
enxergar igual seu “aceito” em alguns espaços e sentir inveja ou mais conhecido
como recalque, disso ser motivação do querer ser igual ou mais, de também poder
andar com os nobres, sentar nas mesas, tomar das suas bebidas, e desde então
existem fadas madrinhas pra proporcionar tudo o que é desejado, e aos poucos
vão cortando as assas, repaginando a ponto de se perder a identidade, de nos
jogar um contra o outro, de calcular toda a boa ação como necessária e
primordial para que haja mudanças num lugar que você já é a referencia de
mudança querendo assim tomar o seu, o meu o nosso protagonismo duramente
conquistado fazendo com que nós desacreditamos do nosso potencial em conseguir coisas
sem retoque de magicas ou o famoso empurrãozinho para a glória nos mantendo no
mesmo lugar tendo exemplo à princesa Izabel que precisou nos libertar porque os
negros escravizados não lutavam pelo o fim da escravidão.
Enxergo que as
divas são mulheres independentes que não aceitam mais esse tipo de imposição,
que quer ser rainha não mais princesa, quer ser a dona da porra toda, mas que
infelizmente também a mantém no papel de competição com iguais, estava vendo
uma novela que fala de escravidão esses dias,
a construção das personagens mulheres negras ilustra bem como ao longo
do tempo somos tidas como rivais, uma das personagens é a negra mocinha que foi
criada na a casa grande quase como se fosse da família e ela sonha com seu
príncipe, em casar com ele (homem branco óbvio), dele ser o seu libertador, a
outra personagem (a rival) preta, era uma mulher maquiavélica, que também
sonhava, mas ela queria o poder, e nessa busca se envolveu com o patrão pra
poder parecer que ela podia mais que todo mundo da senzala, ela era tão
ambiciosa que era X-9, entregava todo mundo e principalmente a mocinha
inofensiva, ela sempre disputava espaço, mas a outra também disputava
sutilmente, sempre mostrando que sim era melhor de sentimentos qualidades, ah,
já ia me esquecendo, as duas tinham fadas madrinhas, a da mocinha era a que
influenciava ela a ser quase sinhá, a se arrumar como as nobres, a escrever, a
se comportar diante da sociedade fazendo a acreditar que poderia ser quase uma
branca, e a outra a vilã tinha a fada que influenciava ela a ter ódio de seus iguais
principalmente da mocinha fazendo-a conseguir as coisas prejudicando os pretos
como ela, as duas por ter fidelidade com as fadas madrinhas assumiam culpas que
não eram delas, iam para o tronco, sofriam e voltava cada qual a sua maneira
ambas com ódio e vontade de que o príncipe lhe tirasse dali ou de se envolver
cada vez mais com o poderoso pra assim conseguir sua alforria.
É exatamente
assim que vejo nós mulheres negras nos comportando diante de varias situações,
e fico pensando que se ambas conseguem tudo que desejam com as tais madrinhas seriam
livres?
Algumas
perguntas ficam latejando na cabeça, que até confunde as ideias, mas por que
exatamente eu vou procurar uma ou um colonizador para legitimar as minhas
ações?
Mais uma vez
somos colocadas em cheque, temos ou não condições pra conquistar caminhos sem
fadas madrinhas por trás arquitetando coisas que escorregam nas nossas vistas,
escorregam tanto que não percebemos o perigo que é nos tornar novamente massa
de manobra. Estamos sendo selecionadas como se estivéssemos no mercado de
escravos. Nosso momento politico é um dos piores e na surdina que costumam nos
atacar, nas caladas da noite, quando estamos distraídas e com tantas coisas
sendo feitas pra poder coexistir, podemos ser lesadas, apunhaladas, alguns
interesses políticos e econômicos tem sempre por trás de boas ações repentinas
vindas de cima pra baixo, o golpe dado na presidenta Dilma é uma lição, não se
alie com inimigos em hipótese alguma.
Eu reforço
para as crianças próximas e também para minha filha esse papel de realeza que
nos pertence, tenho cuidado de não afirmar esse lugar de competição da princesa
com a bruxa, da princesa com a irmã com a mãe com quem for, isto é um projeto
de desarticulação criado para nós. Vivemos um momento crucial que estamos “usufruindo”
de conquistas de lutas travadas à anos, onde estamos metendo o pé na porta e
sendo protagonistas de fato das nossas histórias, trazer fadas madrinhas pra
nos ajudar a ser, existir e dar aval
para o que fazemos é dar um tiro no pé consagrando mais uma vez colonizadores
como heróis das nossas histórias.
Flor, acho que seria bom por o texto claro sobre o fundo escuro, ou o contrário... Me interessei, mas não consegui ler. Abs
ResponderExcluirOi Michele, algumas pessoas me alertaram disso, o fundo escuro cansa a leitura, falo por mim, leio e começa a lacrimejar os olhos. Percebi que pelo celular fica ruim a leitura ja que fica tudo preto, o fundo e as letras, como vejo o blog sempre pelo computador está ok, vou tentar mexer aqui nas configurações. Obrigada pelo retorno!
ResponderExcluirTexto instigante. Bem escrito e verdadeiro. Parabéns!
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